Título – A Neurose de Angústia Autor – João dos Santos Edição eBook para Kindle, Junho de 2015 ISBN 978-0-9932730-0-1 Idioma – Português
Acaba de ser publicada a edição eBook para Kindle do livro “A Neurose de Angústia” que já está à venda em todos os sites internacionais da Amazon. Para mais informações e para aceder ao seu site da Amazon clique numa das seguintes ligações: Amazon.ca, Amazon.co.jp, Amazon.co.uk, Amazon.com, Amazon.com.au, Amazon.com.br, Amazon.com.mx, Amazon.de, Amazon.es, Amazon.fr, Amazon.it, Amazon.nl Apresentação da edição eBook do livro “A Neurose de Angústia”de João dos Santos pela Professora Doutora Patrícia Helena Carvalho Holanda XIV Congresso de História da Educação do Ceará – “Histórias de Mulheres: amor, violência e educação”, Campus da Universidade Regional do Cariri, Ceará 3 de Junho de 2015 O destino de certos homens parece se encontrar vinculado, de forma indelével, ao lugar e ao meio social onde viveu. O destino de João dos Santos – membro notável da Sociedade Portuguesa de Psicanálise – está interligado ao campo da Saúde Mental Infantil de Lisboa, ao Movimento da Escola Moderna, à Liga Portuguesa de Deficientes Motores, à Associação de Educação pela Arte, à Liga Portuguesa de Higiene Mental, dentre outras iniciativas relevantes. Como sabemos, ele foi o introdutor da Psiquiatria Infantil em Portugal. A sua trajetória de vida, nos coloca, diante do destino de um líder, do criador de um referencial teórico e de uma instituição, que guardaram de forma respeitosa as ideias por ele formuladas. Nesse sentido, não é possível constituir uma noção precisa acerca da sua influência e múltipla presença, na história da Psiquiatria em Portugal. Há homens que ousam pensar o diferente, João dos Santos está entre eles. A prova disso está inscrita na obra que ele nos deixou como legado, ao lado da criação de um Centro de Pedagogia Experimental – A Casa da Praia – que depende do Centro de Saúde Mental Infantil, visto aqui como marco de uma das etapas mais importante da saúde mental portuguesa. É bastante curioso pensar que, uma importante mudança de rota bate à porta de João dos Santos, no momento em que sua prática profissional se encontra na posição de divergência, em relação às práticas psiquiátricas usadas em Portugal, as quais, ao invés de restaurar equilíbrios perdidos nessas crianças e adolescentes, contribuíam para o agravamento dos seus possíveis distúrbios. Tal atitude acabou por levá-lo ao exilio na França (1946-1950), em virtude de ter contrariado os interesses da ditadura salazarista, na área de saúde mental. Esse exílio lhe possibilitou um contato mais estreito com um novo círculo de relações, composto por intelectuais da área de Psicologia e Psicanálise, que eram adeptos das ideias de Wallon, Ajuriaguerra, Jean Delay, Lacan, dentre outros. Desse modo, estamos diante de um dos psicanalistas mais notáveis dos últimos tempos e que mudou em Portugal o entendimento acerca da Psiquiatria Infantil. Ressaltemos que ele elabora a sua teoria, com o traço da originalidade, sendo fiel ao espírito do surgimento da Psicanálise, trazendo-a para dialogar com tradições então cristalizadas da Medicina, em especial, no ramo da Psiquiatria, ao propor uma nova abordagem de tratamento para as pessoas então rotuladas pela sociedade, como doentes mentais. Assim como a teoria psicanalítica, o referencial santiano não foi elaborado no âmbito acadêmico. Sendo tão urgente quanto aquela, este último contém uma orientação advinda do lugar do psicanalista que formula suas ideias no consultório, de onde é chamado para visitar escolas. Esta característica de sua ação médica pode ser observada na obra intitulada, A Neurose de Angústia, que a princípio foi escrita em francês por João dos Santos, texto que serviu de base à sua conferência, no 44º Congresso de Psicanalista de Língua Francesa, onde deveria apresentar o relatório, hoje oferecido em eBook, traduzido pela Dra. Maria Clara Castilho, psicóloga e colaboradora do nosso psicanalista de Lisboa. O prefácio feito pelo Prof. Dr. Carlos Amaral Dias, da Sociedade Portuguesa de Psicanálise e do Centro de Profilaxia da Droga de Coimbra, que foi relator do referido Congresso, por sugestão do próprio João dos Santos, que se encontrava impossibilitado de comparecer àquele evento, devido a uma enfermidade de que fora acometido. O referido colega externa seu reconhecimento para com João dos Santos, ao aludir à sua impressão sobre a obra do mestre e a sua reconhecida competência, conforme podemos ler abaixo.
Pude perceber através do trabalho de João dos Santos não só a qualidade destrutiva da pele mental, presente na emoção transbordante da neurose de angústia, como também o fundamento metapsicológico do pânico e da sua angústia de morte. O leitor, tal como eu, irá ficar impressionado pela clareza dos exemplos clínicos, e, sobretudo, pela função calmante diríamos hoje transformadora, das ansiedades desruptivas da função continente do self, pela presença empática do analista que foi João dos Santos (p. 18)
O Dr. Carlos Amaral Dias apreende muito bem o espírito santiano, ao estudar a neurose de angústia, vista como um tipo particular de psiconeurose. Neste texto, João dos Santos vai pontuando a teoria psicanalítica e os casos clínicos apresentados por ele, no decorrer da obra, onde fica patente a sua originalidade de pensar, ainda que comece sua obra, sob a influência das ideias de Freud [1]. Reitera seu interesse pelo tema em foco, no início do livro, afirmando que, “mais de quarenta anos passaram desde o início da minha carreira e é talvez sobre o tema neurose de angústia que acumulei mais dados clínicos.” (p.19). Nos primeiros capítulos, ele situa o pensamento freudiano, destacando que a neurose provoca desordem no comportamento. Ele considera que esta não é constitucional, afirma que o sujeito está consciente do seu estado e deseja se curar. Salienta apenas que a sua manifestação ocorre, através de atitudes e afetos que contrariam a lógica ou a norma. Ele sabe que para Freud, todos esses sintomas são provenientes de complexos sexuais que remontam à infância. Nesse sentido, tanto para Freud, quanto para João dos Santos, as neuroses são conflitos intrapsíquicos e estão enraizadas na história infantil do sujeito, assertiva que pode ser observada em várias passagens, da obra, dentre as quais, destaco uma passagem do capitulo 5.
…nesses sujeitos susceptíveis de serem atingidos por neurose de angústia, existe uma depressão latente, consequência de certos conflitos não ultrapassados, que produzem um bloqueio da tensão conflitual de onde resulta, de acordo com as primeiras hipóteses de Freud, uma acumulação de energia libidinal, que associada a diversos fatores, faz surgir a crise de angústia. (…) Assim, creio que há uma estrutura favorável ao desencadeamento desta neurose; um caráter neurótico ligado a uma neurose da criança não resolvida. (p.78)
Ao fazer isso, ele evidencia o sentido dos sintomas dos seus pacientes, perante a Psicanálise. Esta representa uma espécie de campo de sua movimentação intelectual sem apegar-se, de modo restrito, à conceituação do próprio Freud. Isso pode ser comprovado, quando Santos defende, no capítulo VII, intitulado, Neurose de Angústia como este distúrbio se manifesta na criança, nos seguintes termos
Nesse sentido, ao analisar a neurose de angústia, ele toma a obra de Freud como ponto de partida, ao aceitar a definição de que a angústia, em geral, manifesta-se como expectativa inquieta e opressiva, manifestação do receio de que alguma coisa inesperada aconteça; numa tensão difusa, que gera o medo, o qual se configura, muitas vezes, sem nome. Com base neste modelo analítico, João dos Santos, demonstra aos seus leitores, como ele próprio desenvolve este conceito na sua clínica, derivando-o e aplicando-o, conforme a especificidade dos casos que acompanhou, o que pode ser, magistralmente, observado, no caso de João, um menino de 9 anos, muito evoluído na escola e, culturalmente, conforme podemos ver a seguir:
Uma noite, começa a queixar-se de perturbações respiratórias, estando a sua respiração objetivamente perturbada e manifestando outros . Quando alguns dias depois, os seus pais me levaram o João contaram-me que quatro ou cinco dias antes da crise o rapaz e a mãe ficaram à espera que o pai, um médico, voltasse de uma chamada noturna de emergência. O pai, então, contou que tinha sido alguém que, por acidente, estava a asfixiar devido a um corpo estranho na garganta. Como nos adultos, há sempre um acontecimento sugestivo na origem da perturbação. Seguindo-se à primeira crise, a criança entrou estado de angústia. O tratamento mostrou-me que a criança desde há muito, estava impressionada com o que descobrira sobre as relações sexuais dos pais; que estava muito ligado à mãe e que tentava, sem sucesso, seduzir algumas colegas na escola (p.91-92)
O caso de João evidencia um aspecto peculiar de suas manifestações psíquicas, destacado por Freud e João dos Santos: a desproporção entre a intensidade da angústia e seu objeto. Pode-se observar nesse caso, que a atitude de expectativa invadiu a criança, dificultando a ela o dedicar-se às suas ocupações. Isso pode ser comprovado na descrição de João dos Santos sobre o caso em foco, ao referir-se à fobia escolar desenvolvida pela criança no decorrer do tratamento, onde foi feita uma análise dos seus sonhos e pesadelos. Observa-se, ainda, que ela a “neurose de angústia” vem acompanhada de um quadro de desorientação e de sentimentos de impotência. Desse modo, João dos Santos vai pontuando o seu interesse pela criança, mostrando-se fiel ao espirito freudiano de que a função da análise de criança seria menos de analisar e mais de favorecer o autocontrole do desenvolvimento psíquico de crianças pequenas, baseado no que o tratamento de adultos lhe ensinara. João dos Santos deixa claro o objeto de estudo da sua obra – a psicopatologia ou o comportamento anormal – tema em parte esquecido pelas demais escolas de pensamento psicológico, para o qual ele adota como principal estratégia a observação clínica. Vale destacar que a posição empática assumida por ele em relação aos seus pacientes denota o seu profundo conhecimento do sofrimento humano, ao ter conhecimento que os neuróticos, muitas vezes, se encontravam fracassados em duas frentes: 1. A frente libidinal – quando a descarga do instinto sexual está entravada; 2. A frente da vida social – na qual o sujeito participa de forma restritiva, deformada dolorosa. Ele percebia, claramente, o quanto o neurótico vive, muitas vezes, mal, esbarrando em muitas limitações à expressão das suas possibilidades; sentindo-se bloqueado, parcialmente, na expressão da sua energia. Chego ao fim desta apresentação, anunciando o meu propósito, assim como do grupo de pesquisa que integro, de favorecer a divulgação da obra santiana no Brasil, fazendo um convite para todos que queiram usufruir do inestimável contributo de João dos Santos, no âmbito da Psicanálise, inclusive, em sua interface com a área de Educação, já que para ele, o desenvolvimento infantil está a cargo de inúmeras instituições, dentre as quais, figuram a família e a escola, espaços sociais onde emerge a criança com distúrbios de natureza afetiva e cognitiva. Por tudo isso, considero que a obra de João dos Santos nos coloca diante de sua excepcional personalidade, pelo menos suficientemente original, sensível e radiante, por adotar e promover uma atitude de vida, que abriga um psicanalista disposto a romper com os excessos da Psicanálise, de um certo imperialismo da psiquiatra e dos inconvenientes de uma educação impessoal, desumanizada e burocrática.
[1] “Freud estudou a angústia em dois momentos diferentes de sua obra. Na primeira formulação, a angústia seria consequente a repressão, o que provocaria uma libido acumulada que funcionaria de uma maneira tóxica no organismo. A partir de uma monografia, Inibições, sintomas e angústia (1926) ele conceituou de forma inversa, ou seja, é a repressão que se processa como uma forma de defesa contra a ameaça de irrupção da angústia, mais especificamente, a angústia de castração.” (Zimerman, 1999, p. 198)
Patrícia Helena Carvalho Holanda 3 de Junho de 2015
© 2013-2022 joaodossantos.net. Todos os Direitos Reservados/All RightsReserved.